segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Juventude do PT – “Eu sei quem trama e quem ta comigo”

"O Partido dos Trabalhadores surge da necessidade sentida por milhões de brasileiros de intervir na vida social e política do país para transformá-la. A mais importante lição que o trabalhador brasileiro aprendeu em suas lutas é a de que a democracia é uma conquista que, finalmente, ou se constrói pelas suas mãos ou não virá."
Manifesto de Fundação do PT- 1980



Décimo terceiro ano de um governo dirigido pelo Partido dos Trabalhadores no Brasil.

Das janelas dos subúrbios, das periferias, das favelas, podemos ver um mundo em construção. Os nossos treze anos de governo transformaram a realidade do país. Distribuímos renda, valorizamos o salário mínimo, expandimos o credito e ampliamos o consumo - principalmente daqueles que antes muito pouco ou nada podiam consumir. Estamos em outro patamar de sociedade. Das janelas  desse novo Brasil vemos os carros e motos que foram comprados, vemos muitos ingressarem e frequentarem as faculdades públicas e privadas, vemos as casas serem reformadas. Os nossos treze anos de governo valeram muito, e o nosso projeto foi conduzido a terceira vitória consecutiva por isso; o que não quer dizer que todas as oportunidades que criamos não são passíveis de esquecimento.

Os mais jovens não vivenciaram a transformação que fizemos no país, tudo para esses é direito adquirido e muita vezes, na condição de governantes, somos confundidos com os verdadeiros algozes. A juventude que hoje tem vinte e cinco anos tinha treze quando assumimos a presidência da república, para esses apenas a perspectiva de melhora no futuro pode contar a nosso favor.

Quando a economia cresce e as pessoas podem consumir mais graças a nossa política, nós somos reconhecidos por isso. Entretanto, estamos enfrentando uma crise econômica mundial, que começou em 2008 e que graças a nossa acertada política de distribuição de renda só nos atingiu recentemente. O fato é que os desdobramentos da crise como a elevação no preço da gasolina e da energia elétrica também estão carimbados com a nossa marca. As televisões de 32’’, 40’’ ou 50’’ – recém adiquiridas – dizem todos os dias que a culpa do aumento no custo de vida é da corrupção e não da crise, mais do que isso, elas gritam que a corrupção é exclusividade do Partido dos Trabalhadores. A televisão poderia continuar repetindo o mantra de que tudo vai mal como faz a 10 anos, que o problema está no governo que não gerencia bem o capitalismo e que nós destruímos o país. Mas foi a expectativa frustrada de crescimento e o sentimento de falência desse sistema político que finalmente carimbou no seio do nosso governo a crise política, e nós não apresentamos sinais da defesa do nosso projeto ou do nosso legado. Ao contrário, o governo encabeçado pela petista Dilma Rousseff apresenta como alternativa ao momento de crise um ajuste econômico conservador, e a direção do PT, acuada e sem horizontes, se furta ao debate.

O grande problema é que se as construções pararem, se não der pra sair de carro por causa do preço da gasolina, se o desemprego chegar, tudo aquilo que no senso comum já se tornou direito adquirido passa a não ter nem peso político e nem peso eleitoral, e o nosso silêncio será a fala do elemento que falta para nossa destruição.

É nesse cenário que o PT completa 35 anos de existência.

O ano da maior crise política que o nosso partido e nosso governo já enfrentou.  É também o ano em que a militância do PT viu a bandeira da auditoria cidadã da divida pública ser rejeitada no V congresso, a opinião da CUT ser derrotada e a “maioria” presente naquele congresso escolher não ter opinião pública e assim legitimar sobre o ajuste fiscal conservador em curso no País. Tudo isso no momento em que o PT mais precisava tomar posição e dialogar com a sociedade Brasileira sobre alternativas para superar a crise, corrupção no judiciário e na mídia. Era o momento em que mais precisávamos, e ainda precisamos, fazer a disputa ideológica para não sucumbir.

O golpe branco em curso no país tem diretrizes muito claras: criminalizar o PT, impeachment da Presidenta Dilma e prisão do maior líder popular da América Latina – Lula. A diretriz do PT também precisa ser clara: iniciar uma marcha em defesa da democracia, construída em conjunto com uma ampla frente de esquerda popular e fazer a disputa da agenda do governo com a consciência que essa agenda de ajuste implementada é a agenda que derrotamos nas eleições de 2014.

O ano de 2015 deixará marcas profundas, e silenciadas por sua direção. Marcas de quando o nosso governo comemorou a redução das jornadas de trabalho com redução salarial; marcas do ano em que na Bahia o governador petista saudou policiais envolvidos em uma chacina com jovens negros da periferia como artilheiros que marcaram gols; marcas do fim do pacto com o PMDB quando tivemos em Eduardo Cunha a principal voz do conservadorismo no Brasil. A voz que aprovou na câmara federal de forma ilegal a redução da maioridade penal, o financiamento empresarial a partidos políticos, e tem pautado a terceirização das atividades fins e a redução da idade mínima para trabalhar para 14 anos, parte da agenda nefasta que a bancada BBB (da bala, da bíblia e do boi) pretende conduzir nos próximos anos.

Os nossos inimigos estão no poder?

Os nossos inimigos sempre estiveram no poder. O momento vivido onde era possível distribuir renda sem mexer nos pilares do capitalismo limitou a compreensão que os nossos inimigos de classe mantinham a hegemonia nos aparelhos do Estado e que a presidência da república por si só não garantiria as reformas estruturantes necessárias ou até mesmo uma revolução democrática.

Sem disputar a hegemonia na sociedade, acreditando que alianças para disputar eleições eram a articulação política necessária, convivendo pacificamente com uma década de mentiras e difamação, com a artilharia mais pesada que a grande mídia tinha, enfrentando pacificamente a ação pena 470, que foi o ápice da politização do judiciário, chegamos até aqui.

Chegamos até aqui impulsionando a coluna de esquerda que assumiu governos na América Latina. Chegamos até aqui dizendo não aos EUA, não ao FMI, não a ALCA. Chegamos até aqui dizendo não ao Pessimismo e ao complexo de vira-latas que a elite Brasileira insistia em tentar propagar. A nossa história é motivo de orgulho e de cuidado. Não é um golpe conduzido apenas pelas elites nacionais o que estamos vivenciando. O capital internacional tem especial interesse na finalização do governo democrático e popular que dirige o Brasil.

Os dirigentes do PT estão sendo presos sem provas, simplesmente por serem dirigentes do PT. A direita brasileira e a grande mídia depois de Joaquim Barbosa encontrou em um juiz do Paraná o político perfeito para, através do judiciário, fazer oposição ao nosso governo e desconstruir a vitória eleitoral de 2014. O vazamento seletivo de informações que atinge única e exclusivamente o PT é um escândalo. A prisão do Vaccari, nosso tesoureiro, por receber doação de campanha legal entrará para a história como um atentado a nossa jovem democracia.

O petismo deve superar a limitação da condição dirigente, a apatia e a passividade da direção partidária diante da conjuntura, pois o PT é maior que os membros do governo, e é maior que a direção partidária. Nós devemos tomar as ruas para defender o nosso legado, o nosso instrumento de luta e para combater o Fascismo. Devemos dizer àqueles que incentivaram os ataques a sedes do partido no ano passado e ao Instituto Lula neste mês de julho que a democracia não perecerá diante de nossos olhos. Que aqui ninguém será abatido sem lutar.

“O Bonde não para, só quem tá formada no bonde que bota a cara!”

É momento de fortalecer nossos laços internos, de reforçar as alianças com os movimentos sociais e reconstruir nossa relação com a intelectualidade. A tarefa da formulação sobre o projeto de futuro do país e de aprofundar nossas bandeiras de luta é central nessa conjuntura. A reforma política, a reforma urbana, a democratização e a regulamentação das comunicações, a reforma tributária e a reforma agrária são fundamentais para fortalecer a democracia brasileira e impulsionar esse processo político é o que há para o nosso Partido no próximo período.

Elen Coutinho  - militante do Movimento Fora da Ordem
O PT é o maior partido de esquerda da América Latina, e por isso devemos nos compreender como o instrumento de luta da classe trabalhadora Brasileira. As pessoas depositaram em nós a confiança para aprofundar as boas transformações que fizemos, e somos nós a esperança de mais futuro e mais democracia. Precisamos de uma grande campanha pela verdade e pela ética. Defender o patrimônio público dos privatistas e entreguistas da direita, democratizar os meios de comunicação, regulamentar a m e combater os reacionários que estão instrumentalizando o poder judiciário é nosso dever. Tantos morreram em 64, foram torturados para que chegássemos até aqui. Desse ponto em diante não podemos nos acovardar, pois quem combate a corrupção nesse país é o governo do PT. Quem defende mecanismos democráticos de controle social e participação popular são as e os militantes do PT. Corrupção é sistêmica, o combate a corrupção também precisa ser sistêmico, que precisa fazer parte de todas as esferas da gestão pública e também do cotidiano. As pessoas são passíveis de cometer erros independente do partido ou do espaço que ocupem na sociedade e o caminho para lidar com isso é cotidianamente apurar e punir  todo e qualquer ato de corrupção.

Que 2015 também marque o inicio do processo de superação de uma forma envelhecida de fazer política no Partido dos Trabalhadores. Que nesse mês de agosto, mês de inicio do III congresso de Juventude do PT, nós retomemos uma política de investimento no futuro. Precisamos disputar os corações e mentes agora, e só assim teremos uma sociedade mais progressista. Se essa disputa for sucumbida pelas velhas práticas que tanto agonizam o partido teremos no Brasil a perversidade do racismo, da homofobia, do machismo e do Fascismo ainda mais forte. É esse o grande investimento dos Cunhas, Bolsonaros e Felicianos do Congresso Nacional, e não podemos nos acovardar.  

Precisamos que a juventude do PT tenha como centralidade atuar com a juventude brasileira, constituindo-se enquanto uma juventude de massas, que se encontre com a pauta dos cotistas, dos ainda excluídos, da juventude da periferia que convive com o seu extermínio racista, com os jovens libertos da hetero-normatividade, com a arte, com a juventude do campo, e com essa classe trabalhadora que hoje tem demandas por novos direitos.

“A juventude toda perdida, uma juventude mal dirigida”

Por uma juventude sem tutela no Partido dos Trabalhadores. Uma juventude que se importe mais com a construção coletiva que com disputas internas de tendências. Que dialogue no cotidiano com a juventude do campo e da periferia. As pautas das juventudes são diversas: é sobre editais de projetos para o campo, uma vida completa no campo ou na cidade, é sobre cultura e esporte, é sobre violência policial, sobre empreendedorismo e economia solidária, sobre mídias sócias, direito a cidade, passe livre, sobre universidades, cotas na graduação e na pós, sobre descriminalização das drogas, sobre feminismo, sobre a luta contra todas as formas de preconceito, sobre os direitos humanos e muitos outros temas que precisam ser o centro da nossa disputa política, o motor da nossa ação enquanto juventude partidária.

Não podemos ter mais uma vez nacionalmente uma direção de juventude que muito pouco constrói da luta cotidiana, que prolonga mandatos e não dirige a intervenção em espaços importantes como o V congresso. Nós somos 20% de jovens na direção do Partido desde o ultimo PED. As cotas e a secretaria de Juventude do PT precisam servir para incentivar e construir candidaturas jovens que dialoguem com essas pautas. Se não podemos dialogar com nossas pautas de que servirá essa juventude do PT?

Precisamos de muita unidade interna. Não devemos nós da juventude transformar esse processo de disputa em um processo autofágico. A disputa deve ser feita no campo das ideias. E pretendemos defender a ideia forte que o capital financeiro deve pagar pela crise econômica no Brasil. Que auditar a divida pública e renegociar prazos de pagamentos é o caminho para não enxugar recursos tão necessários ao nosso projeto de esquerda. Que chega de cortes, há outro caminho e o sistema da divida precisa ser investigado.

Pretendemos defender que a secretaria de juventude deve se envolver em eleições para mais que construir programa de governo de juventude, deve construir candidaturas jovens, incentivar e buscar recursos, criar condições para elegermos essa juventude que nos representa.

Não podemos ter mais uma vez um processo antidemocrático como foi essa gestão estadual da secretaria de juventude do PT na Bahia. Foram quatro mudanças de secretários sem diálogo com a base, sem representatividade.  Uma gestão que começou bem, mas que se transformou em uma gestão de “notas políticas” e poucas ações.

Vemos que é um momento de confusão para os nossos, momento em que as contradições estão à flor da pele. Nesta confusão, o desejo intenso de referências que digam o que precisa ser dito faz os jovens da JPT comemorarem os posicionamentos de Cid Gomes, que quase alcançou o status de herói, e de FHC. É o momento de disputar a opinião da juventude petista e de toda sociedade.

“Tudo nosso nada deles?”

A juventude é a parcela da sociedade que se mobiliza frente à possibilidade de transformações, e não necessariamente se mobiliza pela esquerda.  Temos toda uma geração de jovens beneficiados pelas conquistas dos últimos 13 anos que precisam ser disputados. Mas para disputá-los precisamos estar no seu espaço de vivência, precisamos construir lado-a-lado suas lutas, falar a mesma língua e fortalecer diariamente o sentimento de pertencimento.

A juventude do PT na Bahia precisará disputar o coração dos jovens que tem na polícia militar, braço armado do Estado que Rui governa, seu principal algoz. A luta pela desmilitarização da polícia e contra o extermínio da juventude negra será a nossa constante. Não adianta melhorar a condição de vida de alguns e continuar matando milhares.

Não podemos esquecer do nosso lugar de fala. Carregar bandeiras, cumprir tarefas, escutar a base, orientar e ser orientado faz parte da condição dirigente. Superar os limites da direção do Partido que ainda não colocou uma campanha em defesa do próprio Partido nas ruas é o nosso primeiro desafio. Nós ainda somos uma juventude que luta e que sonha, e nesse III congresso de juventude do PT nós vamos fortalecer o nosso projeto socialista e de massas!


Avante, Camaradas!




Movimento Fora da Ordem

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Ações afirmativas, juventude negra e produção do conhecimento.



É um fato que o acesso ao ensino superior foi democratizado no Brasil nos ultimo 10 anos. Mas em que medida a inclusão de mais negros, pardos e estudantes de escola pública em geral se traduziu em uma mudança na produção de conhecimento? Em que lógica esses grupos foram incluídos nas Universidades? O sentido das ações afirmativas como meio para promoção de justiça histórica e descolonização depois de uma década esta se cumprindo?
É tempo de avaliar para avançar. É fato também que a democratização do acesso as Instituições de Ensino Superior (IES) não garante a permanência dos cotistas nem tampouco o aproveitamento completo da experiência universitária. A realidade das Universidades hoje é de trabalhadores estudantes e as especificidades desse novo público precisam ser consideradas como adversidades a serem superadas pelo conjunto da sociedade para construção de uma nova agenda do trabalho que aponte para a redução da jornada e o aumento substancial do tempo de estudo dos jovens brasileiros.
Em que medida os trabalhadores estudantes estão inseridos nas pesquisas acadêmicas? A formação é a mesma que o estudante não cotista?
As respostas negativas para as duas perguntas surtem efeito no ingresso na participação do cotista na produção do conhecimento e no ingresso na pós-graduação. É nessa parte da academia onde há uma grande peneira social e diversas barreiras a entrada que fica o “doce fino” que ainda não tivemos acesso e sem o qual nada mudaremos na inteligibilidade e trajetória das Universidades. Existe um programa de iniciação cientifica chamado “PIBIC das Ações Afirmativas”, em vigência em varias universidades do país, mas em um volume muito pequeno. Será que o cotistas não quer fazer iniciação cientifica? Será que a vontade de fazer mestrado e doutorado só existe em uma parte dos estudantes?
A questão que está colocada é que a peneira social da pós-graduação tem diversas facetas: a língua estrangeira que não é facilmente obtida; a participação em iniciação científica; os processos seletivos caros e espalhados pelo país; os processos de apadrinhamento na seleção de projetos,  etc. Há cursos onde há um processo unificado de seleção, um exame nacional, uma prova que pode ser feita em lugares diferentes do país e servem para seleção em uma diversidade de Universidades, como a ANPEC – prova dos cursos de Economia que custa em média $300,00 a inscrição.  Mas há cursos como os da área de Serviço Social que cada Universidade tem seu processo seletivo, com o custo alto, com submissão de projetos e a dificuldade de acesso inviabiliza a participação do cotista desde a seleção. Por tanto o eixo das ações afirmativas na pós-graduação é urgente. Esse ainda é um espaço reservado para a elite dentro das universidades. 
Sem a compreensão de que o sentido das ações afirmativas é mais que popularizar o ensino superior nos moldes que ele foi formado no Brasil, sem garantir o ingresso na pós-graduação, sem acesso a pesquisa e a produção conhecimento não haverá contra hegemonia nas Universidades. Haverá mais do mesmo conhecimento produzido majoritariamente sob universos e lógicas dos grupos étnicos-raciais e econômicos dominantes. Trata-se de mais que garantir a permanência do Cotista na graduação. Trata-se de entender que estamos construindo um novo processo de educação para superar séculos de desumanização e exploração. Um processo de educação contínuo e emancipador capaz de eliminar a hierarquia social que determina quem tem acesso ao quê na sociedade.
Elen Coutinho
Economista, Pesquisadora CNPQ
Coletivo Crioulo