"O Partido dos Trabalhadores
surge da necessidade sentida por milhões de brasileiros de intervir na vida
social e política do país para transformá-la. A mais importante lição que o
trabalhador brasileiro aprendeu em suas lutas é a de que a democracia é uma
conquista que, finalmente, ou se constrói pelas suas mãos ou não virá."
Manifesto
de Fundação
do PT- 1980
Décimo terceiro
ano de um governo dirigido pelo Partido dos Trabalhadores no Brasil.
Das janelas dos subúrbios, das
periferias, das favelas, podemos ver um mundo em construção. Os nossos treze anos de governo transformaram a realidade
do país. Distribuímos renda, valorizamos o salário mínimo, expandimos o credito
e ampliamos o consumo -
principalmente daqueles que antes muito pouco ou nada podiam consumir. Estamos
em outro patamar de sociedade. Das
janelas desse novo Brasil vemos os carros e motos que foram comprados, vemos muitos ingressarem e frequentarem as faculdades públicas e
privadas, vemos as casas serem reformadas. Os nossos treze anos de governo
valeram muito, e o nosso projeto foi conduzido a terceira vitória
consecutiva por isso; o que não quer dizer
que todas as oportunidades que criamos não são passíveis de esquecimento.
Os mais jovens não vivenciaram a transformação que fizemos no
país, tudo para esses é direito adquirido e muita vezes, na condição de
governantes, somos confundidos com os verdadeiros algozes. A juventude que hoje
tem vinte e cinco anos tinha treze quando assumimos a presidência
da república, para esses apenas a perspectiva de melhora no futuro pode contar
a nosso favor.
Quando a economia cresce e as pessoas podem consumir mais
graças a nossa política, nós somos reconhecidos por isso. Entretanto, estamos enfrentando uma crise econômica mundial, que começou em 2008 e que graças a nossa acertada política de distribuição de renda só nos atingiu recentemente. O fato é que os
desdobramentos da crise como a
elevação no preço da gasolina e da energia elétrica também estão carimbados com
a nossa marca. As televisões de 32’’, 40’’ ou 50’’ – recém adiquiridas – dizem
todos os dias que a culpa do aumento no custo de vida é da corrupção e não da
crise, mais
do que isso, elas gritam que a
corrupção é exclusividade do Partido dos Trabalhadores. A televisão poderia
continuar repetindo o mantra de que tudo vai mal como faz a 10 anos, que o
problema está no governo que não gerencia bem o capitalismo e que nós
destruímos o país. Mas foi a expectativa frustrada de crescimento e o
sentimento de falência desse sistema político que finalmente carimbou no seio
do nosso governo a crise política, e nós não apresentamos sinais da defesa do nosso projeto ou do
nosso legado. Ao contrário, o
governo encabeçado pela petista Dilma Rousseff apresenta como alternativa ao momento de crise um ajuste econômico conservador, e a direção do PT, acuada e sem horizontes, se furta ao
debate.
O grande problema é que se as construções pararem, se não der
pra sair de carro por causa do preço da gasolina, se o desemprego chegar, tudo
aquilo que no senso comum já se tornou direito adquirido passa a não ter nem
peso político e nem peso eleitoral, e o nosso silêncio será a fala do elemento que falta para nossa destruição.
É nesse cenário que o PT completa 35 anos de existência.
O ano da maior crise política que o
nosso partido e nosso governo já enfrentou. É também o ano em que a militância do PT viu a bandeira da auditoria
cidadã da divida pública ser rejeitada no V congresso, a opinião da CUT ser
derrotada e a “maioria” presente naquele congresso escolher não ter opinião pública e assim legitimar sobre o ajuste fiscal
conservador em curso no País. Tudo isso no momento em que o PT mais precisava
tomar posição e dialogar com a sociedade Brasileira sobre alternativas para
superar a crise, corrupção no judiciário e na mídia. Era o momento em que mais precisávamos, e ainda precisamos, fazer a disputa ideológica para não sucumbir.
O golpe branco em curso no país tem diretrizes muito claras:
criminalizar o PT, impeachment da Presidenta Dilma e prisão do
maior líder popular da América Latina – Lula. A diretriz do PT também precisa
ser clara: iniciar uma marcha em defesa da democracia, construída em conjunto
com uma ampla frente de esquerda popular e fazer a disputa da agenda do governo
com a consciência que essa agenda de ajuste implementada é a agenda que
derrotamos nas eleições de 2014.
O ano de 2015 deixará marcas profundas, e silenciadas por sua direção. Marcas de quando o nosso governo comemorou a redução das
jornadas de trabalho com redução salarial; marcas do ano em que na Bahia o governador petista saudou policiais envolvidos em uma
chacina com jovens negros da periferia como artilheiros que marcaram gols;
marcas do fim do pacto com o PMDB quando tivemos em Eduardo Cunha a principal
voz do conservadorismo no Brasil. A voz que aprovou na câmara federal de forma
ilegal a redução da maioridade penal, o financiamento empresarial a partidos
políticos, e tem pautado a terceirização das atividades fins e a redução da
idade mínima para trabalhar para 14 anos, parte da agenda nefasta que a bancada
BBB (da bala, da bíblia e do boi) pretende conduzir nos próximos anos.
Os nossos inimigos estão no poder?
Os nossos inimigos sempre estiveram no poder. O momento
vivido onde era possível distribuir renda sem mexer nos pilares do capitalismo
limitou a compreensão que os nossos inimigos de classe mantinham a hegemonia
nos aparelhos do Estado e que a presidência da república por si só não garantiria as reformas estruturantes necessárias ou até
mesmo uma revolução democrática.
Sem disputar a hegemonia na sociedade, acreditando que
alianças para disputar eleições eram a articulação política necessária, convivendo pacificamente com uma década de mentiras e
difamação, com a artilharia mais pesada que a grande mídia tinha, enfrentando
pacificamente a ação pena 470, que foi o ápice da politização do judiciário,
chegamos até aqui.
Chegamos até aqui impulsionando a coluna de esquerda que
assumiu governos na América Latina. Chegamos até aqui dizendo não aos EUA, não ao FMI, não a ALCA. Chegamos até aqui dizendo não ao Pessimismo e ao complexo de vira-latas que a elite
Brasileira insistia em tentar propagar. A nossa história é motivo de orgulho e
de cuidado. Não é um golpe conduzido apenas pelas
elites nacionais o que estamos vivenciando. O capital internacional tem
especial interesse na finalização do governo democrático e popular que dirige o
Brasil.
Os dirigentes do PT estão sendo presos sem provas, simplesmente por serem dirigentes do PT. A direita brasileira
e a grande mídia depois de Joaquim Barbosa encontrou em um juiz do Paraná o
político perfeito para,
através do judiciário, fazer
oposição ao nosso governo e desconstruir a vitória eleitoral de 2014. O
vazamento seletivo de informações que atinge única e exclusivamente o PT é um
escândalo. A prisão do Vaccari, nosso tesoureiro, por receber doação de
campanha legal entrará para a história como um atentado a nossa jovem
democracia.
O petismo deve superar a limitação da condição dirigente, a apatia e a passividade da
direção partidária diante da conjuntura, pois o PT é maior que os membros do governo, e é maior que a direção partidária. Nós devemos tomar as ruas
para defender o nosso legado, o nosso instrumento de luta e para combater o Fascismo. Devemos dizer àqueles que incentivaram os ataques a sedes do partido no ano
passado e ao Instituto Lula neste mês de julho que a democracia não perecerá diante de nossos olhos.
Que aqui ninguém será abatido sem lutar.
“O Bonde não para, só quem tá formada no bonde que bota a cara!”
É momento de fortalecer nossos laços internos, de reforçar as alianças com os movimentos sociais e reconstruir nossa relação com a intelectualidade. A tarefa da formulação sobre o
projeto de futuro do país e de aprofundar nossas bandeiras de luta é central
nessa conjuntura. A reforma política, a reforma urbana, a democratização e a regulamentação das comunicações, a reforma tributária e a reforma agrária são fundamentais para fortalecer a
democracia brasileira e impulsionar esse processo político é o que há para
o nosso Partido no próximo período.
Elen Coutinho - militante do Movimento Fora da Ordem |
Que 2015 também marque o inicio do processo de superação de uma forma envelhecida de
fazer política no Partido dos Trabalhadores. Que nesse mês de agosto, mês
de inicio do III congresso de Juventude do PT, nós retomemos uma política de investimento no futuro. Precisamos disputar os corações e mentes agora, e só assim teremos uma sociedade mais progressista. Se essa disputa for sucumbida pelas
velhas práticas que tanto agonizam o partido teremos no Brasil a perversidade do racismo, da homofobia, do
machismo e do Fascismo ainda mais forte. É esse o grande investimento dos
Cunhas, Bolsonaros e Felicianos do Congresso Nacional, e não podemos nos acovardar.
Precisamos que a juventude do PT tenha como centralidade
atuar com a juventude brasileira, constituindo-se enquanto uma juventude de
massas, que se encontre com a pauta dos cotistas, dos ainda excluídos, da
juventude da periferia que convive com o seu extermínio racista, com os jovens
libertos da hetero-normatividade, com a arte, com
a juventude do campo, e com essa classe trabalhadora que hoje tem demandas por
novos direitos.
“A juventude toda perdida, uma juventude mal dirigida”
Por uma juventude sem tutela no Partido dos Trabalhadores.
Uma juventude que se importe mais com a construção coletiva que com disputas
internas de tendências. Que dialogue no cotidiano com a juventude do campo e
da periferia. As pautas das juventudes são diversas: é sobre editais de projetos para o campo, uma vida completa no
campo ou na cidade, é sobre cultura e esporte, é sobre violência
policial, sobre empreendedorismo e economia solidária, sobre mídias sócias, direito
a cidade, passe livre, sobre universidades, cotas na graduação e na pós, sobre descriminalização das drogas, sobre feminismo, sobre a luta contra todas as formas
de preconceito, sobre os
direitos humanos e muitos outros temas que precisam ser o centro da nossa
disputa política, o motor da nossa ação enquanto juventude partidária.
Não podemos ter mais uma vez nacionalmente uma direção de
juventude que muito pouco constrói da luta cotidiana, que prolonga mandatos e
não dirige a
intervenção em espaços
importantes como o V congresso. Nós somos 20% de jovens na direção do Partido
desde o ultimo PED. As cotas e a secretaria de Juventude do PT precisam servir
para incentivar e construir candidaturas jovens que dialoguem com essas pautas.
Se não
podemos dialogar com nossas pautas
de que servirá essa juventude do PT?
Precisamos de muita unidade interna. Não devemos nós da
juventude transformar esse processo de disputa em um processo autofágico. A
disputa deve
ser feita no campo das ideias. E
pretendemos defender a ideia forte que o
capital financeiro deve pagar pela crise econômica no Brasil. Que auditar a
divida pública e renegociar prazos de pagamentos é o caminho para não enxugar recursos tão necessários ao nosso projeto
de esquerda. Que chega de cortes, há outro caminho e o sistema da divida
precisa ser investigado.
Pretendemos defender que a secretaria de juventude deve se envolver em
eleições para mais que construir programa de governo de juventude, deve
construir candidaturas jovens, incentivar e buscar recursos, criar condições
para elegermos essa juventude que nos representa.
Não podemos ter mais uma vez um processo antidemocrático como
foi essa gestão estadual da secretaria de juventude do PT na Bahia. Foram
quatro mudanças de secretários sem diálogo
com a base, sem representatividade. Uma gestão que
começou bem, mas que se transformou em uma gestão de “notas políticas” e poucas ações.
Vemos que é um momento de confusão para os nossos, momento em que as
contradições
estão à flor da pele. Nesta confusão, o desejo intenso de referências
que digam o que precisa ser dito faz os jovens da JPT comemorarem os
posicionamentos de Cid Gomes, que quase alcançou o status de
herói, e de FHC. É o momento de
disputar a opinião da juventude petista e de toda sociedade.
“Tudo nosso nada deles?”
A juventude é a parcela da sociedade que se mobiliza frente à possibilidade de transformações, e não necessariamente se mobiliza pela esquerda. Temos toda uma geração de jovens beneficiados
pelas conquistas dos últimos 13 anos que precisam ser disputados. Mas para disputá-los precisamos estar no
seu espaço
de vivência, precisamos construir lado-a-lado suas lutas,
falar a mesma língua e fortalecer diariamente o sentimento de pertencimento.
A juventude do PT na Bahia precisará disputar o coração dos
jovens que tem na polícia militar, braço armado do Estado que Rui governa, seu
principal algoz. A luta pela desmilitarização da polícia e contra o extermínio
da juventude negra será a nossa constante. Não adianta melhorar a condição de
vida de alguns e continuar matando milhares.
Não
podemos esquecer do nosso lugar de fala. Carregar bandeiras, cumprir tarefas,
escutar a base, orientar e ser orientado faz parte da condição dirigente.
Superar os limites da direção do Partido que ainda não colocou uma campanha em
defesa do
próprio Partido nas ruas é o
nosso primeiro desafio. Nós ainda somos uma juventude que luta e que sonha, e
nesse III congresso de juventude do PT nós vamos fortalecer o nosso projeto
socialista e de massas!
Avante, Camaradas!
Movimento Fora da Ordem