segunda-feira, 26 de maio de 2014



CARTA A COMUNIDADE ACADÊMICA

EM DEFESA DO DIRETÓRIO CENTRAL DOS ESTUDANTES



“E você samba de que lado, De que lado você samba, Você samba de que lado,

De que lado você samba, De que lado, de que lado, De que lado você vai sambar???”



A atual gestão do Diretório Central dos Estudantes, o DCE-UFBA, órgão máximo de representação dos Estudantes, no âmbito da Universidade Federal da Bahia é dirigido atualmente pela gestão VIRAÇÃO, composta pelos seguintes coletivos estudantis: Crioulo, Juventude Revolução, Levante Popular da Juventude e Quilombo. 


Esta composição plural foi feita tendo como base programática a luta pela democratização e popularização da Universidade Federal da Bahia, assumindo o compromisso de respeito a todos os coletivos que pactuam em torno deste mesmo projeto estando ou não na gestão. 


Neste contexto de pluralidade e pelo caráter representativo desta entidade decisões que afetem os interesses coletivos do corpo estudantil não podem ser tomadas sem a construção de pactos entre os coletivos que compõe a gestão e processos de amplas consultas as bases. Por isso que além das reuniões de diretoria, existe o Conselho de Entidades de Base, as assembleias estudantis e o congresso de estudantes da UFBA. 


Infelizmente o que assistimos ao longo da atual gestão está longe de configurar-se em uma postura democrática. Os coletivos Quilombo e levante popular da juventude aos quais estão vinculados a maioria dos atuais diretores do DCE, conformaram um campo majoritário, sufocando a possibilidade do dialogo e impondo práticas autoritárias.


Já em 2013 sem nenhum pacto entre os Diretores ou consulta os estudantes, este campo majoritário divulgou uma carta de apoio ao candidato José Tavares Neto para a eleição do Hospital Universitário (HUPES), carta inclusive divulgada pela página oficial do DCE. Coube ao coletivo crioulo combater esta atitude, garantido uma auto-crítica pública da gestão. Além de o referido candidato ser um dos articuladores da opinião conservadora e reacionária na Universidade, oponente forte do Programa de Ações Afirmativas, jamais poderia ter sido divulgada uma carta de apoio a uma candidatura sem a consulta ao conjunto da diretoria da entidade e dos estudantes. 


O processo de eleição da reitoria aprofundou a constante tentativa de se imprimir opiniões pela força e não pelo debate. Já na escolha dos representantes estudantis para participar da comissão eleitoral pleiteamos a participação com um membro titular e fomos impedidos, sob o argumento de que não estávamos apoiando a chapa 4, do professor Dirceu Martins, apoiada pelo campo majoritário do DCE. A partir daí desintegrou-se qualquer possibilidade de atuação conjunta na gestão.


Na sequencia uma sucessão de erros aprofundaram a postura impositiva, autoritária e excludente, no tratamento dos interesses do corpo discente. A direção majoritária se eximiu de elaborar um programa dos estudantes ou mesmo de promover um debate especifico com os candidatos sobre as pautas estudantis.


Esta postura que desarmou o DCE, enquanto entidade, para representar os estudantes no processo de escolha para reitor foi seguida por outra ainda mais perniciosa.  A todo o momento os grupos majoritários procuram vincular de alguma forma as conquistas históricas conseguidas pelo acumulo de anos de luta dos estudantes à chapa 4, encabeçada pelo atual Pró-reitor de administração Dirceu Martins. De uma hora para outra assistimos estarrecidos ao BUSUFBA, RU, Residências e o conjunto da Assistência Estudantil, reduzidas a concessões ou dádivas de uma candidatura. Reforçando um estereotipo paternalista e clientelista que por anos foi duramente combatido pelo nosso Diretório Central.


Não bastassem estes fatos, a todo o momento, estes grupos majoritários, tentaram apresentar a chapa 4 como a candidatura dos estudantes, até chegar ao ápice de apresentar uma propaganda em que seis dos últimos coordenadores gerais do DCE apoiam a chapa 4, inclusive o atual. Este foi o único momento em que o tais grupos lembraram-se de apresentar o nome do DCE na campanha. Não se lembraram da entidade para formular uma plataforma dos estudantes, não se lembraram da entidade no momento de amarrar compromissos dos candidatos com as pautas estudantis. Lembraram-se do DCE apenas no momento de vincular seis de seus coordenadores a uma candidatura.

Este conjunto de erros e atropelos fez com que aos olhos da comunidade Universitária, nitidamente o DCE fosse o principal apoiador da chapa derrotada, impondo um desgaste covarde a nossa entidade, que formalmente nunca apoiou nenhuma candidatura, já que a mesma na prática nunca foi consultada em nenhum de seus foros sobre o que fizeram em seu nome.


Esta pratica conhecida como aparelhamento, não foi bem recebida pelo corpo discente que infringiu aos dois grupos (Quilombo e Levante) do campo majoritário uma acachapante derrota politica e eleitoral, dando mais de 3000 votos de frente entre os estudantes, para João Carlos Salles e Paulo Miguez da chapa 1.


Diante disso defendemos o DCE, que enquanto entidade, não pode ser confundida com os grupos que a capturam por métodos equivocados, reafirmamos nosso compromisso com a disputa do projeto político de uma UFBA pública, gratuita e de qualidade, mas com pesar afirmamos insustentável a situação de minoria com opinião esmagada dentro da gestão e por isto deixamos neste momento de compor a atual Direção. Continuaremos como representante estudantil no Conselho Universitário, mas não participaremos mais das Diretorias de Comunicação, Combate ao Racismo e Direitos Humanos.


Nós sambamos do lado daqueles que lutam por um projeto que não vê nesta, ou em qualquer outra eleição seu fim, mas sim uma etapa para construção de “um mundo onde sejamos todos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres” (Rosa Luxemburgo).


quarta-feira, 14 de maio de 2014

Política de Ações Afirmativas na UFBA para além das cotas!


As políticas de Ações Afirmativas surgem como forma de combater a idéia da existência de uma democracia racial no Brasil e representa o reconhecimento por parte do Estado dessas condições de desvantagem que negros e indígenas enfrentam nos diferentes âmbitos sociais, inclusive no ensino superior, necessitando de um tratamento desigual para alcançar a equidade. Elas se caracterizam como uma forma de justiça reparatória possuem um público alvo e são temporárias.

 Em 2014 completaremos uma década de implementação do Programa de Ações Afirmativas da UFBA (PAA-UFBA). Aprovado em 2004, esse programa foi fruto de uma grande mobilização de setores da Comunidade Acadêmica e organizações do Movimento Negro que sempre lutaram pela democratização do ensino superior e ampliação do acesso da população negra, quilombola e indígena aos bancos da universidade pública.


 A ampliação do acesso para estudantes negro/as, quilombolas e indígenas, oriundos de escola pública foi uma importante estratégia desse programa. Após a adoção das cotas a universidade se pinta de povo, entretanto, vale ressaltar que a reserva de vagas não garante a ocupação da mesma. Apesar de conquistarmos as cotas, o programa que previa ações de preparação, ingresso, permanência e pós-permanência ainda tem muito que avançar.
  
Nesses 10 anos de Ações Afirmativas da UFBA o que a PROAE (Pró-reitoria de ações Afirmativas e Assistência Estudantil)  apresentou ou efetivou do plano? O entendimento é que o programa Permanecer (de gerência dessa Pró-reitoria, especificamente da Coordenadoria de Ações Afirmativas Educação e diversidade) é de assistência estudantil, e em todos os espaços ele é assim apresentado. É certo que o plano de ações afirmativas previa a garantia da permanência (assistência estudantil), mas não só isso, e por não ser só isto é que Ações Afirmativas e Assistência Estudantil são diferentes. 

A PROAE atualmente é dividia em três coordenações: Coordenação de Ações Afirmativas, Diversidade e Educação; Coordenação dos Programas de Assistência ao Estudante e Coordenação de Infraestrutura executiva. A necessidade de se retirar o Programa de Ações Afirmativas desse guarda-chuva de políticas necessárias, e dar a centralidade que a política de reparação e integração a vida Universitária precisa é auto explicativa:

A diversidade na origem dos estudantes garantida pelas cotas faz emergir demandas muito próprias de cada segmento, especialmente questões fruto da vulnerabilidade socioeconômica generalizada, assim como questões delicadas por pertencerem a contextos culturais diferenciados e estigmatizados por não hegemônicos.  A inexistência de políticas específicas de amparo, que garantam participação e permanência plena dos cotistas na UFBA, faz com que os mesmos, em geral, não possam usufruir adequadamente da experiência universitária. Nega-se, dessa forma, a inclusão evocada pelo sentido de existência das Ações Afirmativas enquanto meio de promoção de justiça histórica e descolonização.
 
Manter a política de ações afirmativas debaixo de um guarda-chuva de eixos norteadores de políticas públicas, é não se responsabilizar mais uma vez sob a efetividade e garantia desta. Resguardada a importância com o cuidado e atenção com a Diversidade e com as Ações Afirmativas, manter uma coordenadoria geralzona é irresponsável e descomprometido.


Os dados do programa PIBIC das Ações Afirmativas apresentam o panorama da relevância e da impotancia da  política afirmativa dentro da universidade nos últimos anos. Desde 2009 (ano da criação do programa de bolsas PIBIC Ações Afirmativas ) a UFBA tem bolsas PIBIC CNPPQ Ações Afirmativas. Veja a importância que a instituição reconhece no programa.

Dados sobre o PIBIC:
 2009/2010 – 858 bolsistas PIBIC e 25 bolsistas PIBIC AF

2010/2011 – 923 bolsistas PIBIC  e 32 bolsistas PIBIC AF

2011/2012 –1067 bolsistas PIBIC e 32 bolsistas PIBIC AF

2013/2014 – 1320 bolsas PIBIC na UFBA (entre CNPQ, FAPESB, UFBA, etc) e apenas 31 bolsistas PIBIC AF.

As Ações Afirmativas são vetor de melhoramento e promoção da ciência, das próprias universidades, pois, essas precisam sempre se aperfeiçoar, incluir trajetórias, universos e inteligibilidades diversas para que cumpram sua missão de excelência, expansão, aprimoramento contínuo. Ou seja, as transformações exigidas pelas A.A. não podem ser apenas pontuais, antes, é condição sine qua non que sejam totalmente estruturais e transversais a todos os eixos das IES brasileiras.  (CACUFBA; 2012).

Coletivo Crioulo

Fonte
Carta de Fundação do Colegiado Autônomo de Estudantes Cotistas da UFBA - CACUFBA; dez 2012; II ENNUFBA.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Não são só umas bananas...

Esplêndida a atitude de comer a banana, prosseguir com o jogo e mostrar o quanto é talentoso em campo (palmas). Mas se isso não é acompanhado de um posicionamento realmente combativo é como se ele estivesse engolindo a banana e o racismo também. A atitude seguida de uma declaração de que não devemos dar importância a atos racistas chega a ser um desrespeito a luta do Movimento Negro que conquistou tantas vitórias.

Não vivemos numa democracia racial, e o racismo não esta na minha cabeça. Esta nos índices de mortalidade de jovens negros desse país, nas taxas de desemprego, de analfabetismo, de desnutrição, de pobreza e por ai vai... 

Alôo, esta institucionalizado, em algum momento vai te afetar,mesmo que você não perceba! Não temos culpa dos anos de escravidão sofrido pelo povo negro, mas colhemos os frutos desse período até hoje e temos a responsabilidade social e política de combater e não reproduzir práticas racistas.

Não, não é exagero combater essa campanha ridícula que só legitima o racismo. O negro foi historicamente (e ainda é apesar dos avanços que conquistamos) considerado e tratado como animal. Por muito tempo lhes foi negada a condição de humano, de gente, de cidadão. O termo macaco sempre foi pejorativamente usado para reproduzir isso. Portanto eu não quero ser comparada com um animal, desde um cachorro em uma campanha publicitária de um vereador racista a uma campanha com bananas que se diz solidária. Dizem que somos todos macacos, mas vai falar de cotas pra negro, aí já é racismo. Meche nos privilégios deles pra vê até onde vai essa “solidariedade”. 

Não queira pormenorizar o racismo, não queira pormenorizar minha revolta. Não é somente pela banana... é porque estou CANSADA! 

Cansada de ser seguida no shopping, cansada de ver negros sendo espancados e amarrados em postes, cansada de ver meninas alisando desesperadamente os cabelos pra se enquadrar a um padrão de beleza que diz que seu cabelo é ruim, cansada por que a Claudia e o Amarildo poderiam ser meus parentes, por que minha prima preta ganhou dezenas de bonecas loiras em seu aniversário, por que muitos negros tem vergonha de afirmar sua identidade, porque minha cidade é majoritariamente negra e minha universidade é majoritariamente branca, cansada de ser vendida como divertimento pra gringo, cansada por que cotidianamente o negro é insultado por cultuar sua crenças religiosas de matrizes africanas. Enfim CANSADA!

Mas como diz a música: 
“Eu não compactuo com esse jogo sujo, Grito mais alto ainda e denuncio esse mundo imundo” - Ellen Oléria

Aline Cruz - Coletivo Crioulo
Diretora de Combate ao Racismo DCE UFBA

domingo, 20 de abril de 2014





Marilena Chauí

Marcelino Galo


Emiliano José





Popularizar a Universidade é mais que colocar a classe trabalhadora nos bancos das salas de aula!


Para alguns a defesa da popularização da Universidade está distante absolutamente da defesa da excelência acadêmica, e o medo de perder o que conquistamos a duras penas os coloca em uma posição defensiva e nada avançada. Para outros que sabem exatamente por que defendem a popularização da Universidade, são dois elementos alinhados.

A Universidade Federal da Bahia ainda não se popularizou o suficiente, ainda há cursos que não são populares, e os cursos mais populares não tem a estrutura que deveriam ter. São dois vetores de popularização: o povo dentro da universidade e o conhecimento produzido.

A expansão não traz necessariamente a perda da qualidade. O processo de expansão das vagas deve ser continuo, e a qualidade do ensino elevada. Esse é um dos entendimentos que o estudante trabalhador precisa ter para não achar que ocupa o espaço da Universidade pública “de favor”.

Excelência acadêmica não é produtivismo, não tornar este conceito um conceito contrario a nós e a nossa entrada na universidade, quebrar a difusão do elitismo é dizer que o espaço acadêmico também é nosso. Entender que a Universidade pública serviu durante muito tempo aos interesses e a manutenção de uma classe, e agora deverá servir aos interesses de uma nação, e deverá de fato cumprir sua função social.
A Universidade da elite era de excelência? Porque a nossa não será? Porque produziremos conhecimento contra-hegemônico, e este não será o espaço da excelência acadêmica?

Que as repostas não nos remetam ao elitismo, que as respostas nos levem a popularização da produção científica, da produção do conhecimento, do ensino da pesquisa e da extensão.

A UFBA pode e deve ser: democrática, popular e de excelência; que produza conhecimento contra-hegemônico, pois a universidade ocupa um espaço importante na disputa da opinião e dos valores da sociedade. Por isso, todas as investidas sobre a universidade no sentido de populariza-la tratavam-se de disputa da hegemonia, eram sobre a liderança cultural-ideológica de uma classe sobre as outras. Por isto na atual conjuntura de 10 anos de cotas na UFBA, de 14 anos de governos progressistas em âmbito federal que retomou investimentos na educação superior pública recuperando-a de uma situação de sucateamento, nós devemos pressionar por mais; por transformação completa, pois a tomada desse aparelho hegemônico é crucial para a revolução cultural, é crucial para o nosso projeto de esquerda.

Escrevo para dizer que nesse processo eleitoral da Reitoria da UFBA não precisamos ter medo de sonhar, ter medo de amar e mudar as coisas. Não se pode estagnar, achar que é o suficiente, esse não era o fim do nosso projeto, era e é apenas o caminho. E o caminho é ainda pela esquerda. Um projeto que tenha referência nas nossas conquistas, mas que seja diferente do modelo passado, que vá mais além, que retome a liderança política da UFBA, que seja comprovadamente um sucesso de gestão, que entenda cada problema minucioso e seja capaz de democraticamente resolver, que compreenda e trate como urgência os problemas da assistência estudantil para que nós possamos nos debruçar sobre a permanência de outra perspectiva, para que o nosso debate seja não mais sobre os problemas e sim sobre qual o caminho dos avanços, qual o caminho de tornar a UFBA referência no Programa de permanência, referência em democracia universitária.

Meu candidato é o professor João Carlos Salles, com um histórico irretocável de compromisso com a Universidade, de defesa das Cotas e de excelente gestão da FFCH. Meu candidato nunca esteve posicionado contra o nosso projeto e é hoje quem tem mais condições e coerência para nos levar a outro patamar de Universidade Pública. Com João a UFBA será além de democrática, popular e socialmente referenciada, uma protagonista para o desenvolvimento da Bahia. 


Elen Coutinho
Militante do Coletivo Crioulo
Secretária de formação Política do Partido dos Trabalhadores da Bahia