CARTA A
COMUNIDADE ACADÊMICA
EM DEFESA
DO DIRETÓRIO CENTRAL DOS ESTUDANTES
“E você samba de que lado, De que lado você samba, Você samba de que lado,
De que lado você samba, De que lado, de que lado, De que lado
você vai sambar???”
A atual gestão do Diretório
Central dos Estudantes, o DCE-UFBA, órgão máximo de representação dos
Estudantes, no âmbito da Universidade Federal da Bahia é dirigido atualmente
pela gestão VIRAÇÃO, composta pelos seguintes coletivos estudantis: Crioulo,
Juventude Revolução, Levante Popular da Juventude e Quilombo.
Esta composição plural foi feita
tendo como base programática a luta pela democratização e popularização da
Universidade Federal da Bahia, assumindo o compromisso de respeito a todos os
coletivos que pactuam em torno deste mesmo projeto estando ou não na gestão.
Neste contexto de pluralidade e
pelo caráter representativo desta entidade decisões que afetem os interesses
coletivos do corpo estudantil não podem ser tomadas sem a construção de pactos
entre os coletivos que compõe a gestão e processos de amplas consultas as
bases. Por isso que além das reuniões de diretoria, existe o Conselho de
Entidades de Base, as assembleias estudantis e o congresso de estudantes da
UFBA.
Infelizmente o que assistimos ao
longo da atual gestão está longe de configurar-se em uma postura democrática.
Os coletivos Quilombo e levante popular da juventude aos quais estão vinculados
a maioria dos atuais diretores do DCE, conformaram um campo majoritário,
sufocando a possibilidade do dialogo e impondo práticas autoritárias.
Já em 2013 sem nenhum pacto entre
os Diretores ou consulta os estudantes, este campo majoritário divulgou uma
carta de apoio ao candidato José Tavares Neto para a eleição do Hospital
Universitário (HUPES), carta inclusive divulgada pela página oficial do DCE.
Coube ao coletivo crioulo combater esta atitude, garantido uma auto-crítica
pública da gestão. Além de o referido candidato ser um dos articuladores da
opinião conservadora e reacionária na Universidade, oponente forte do Programa
de Ações Afirmativas, jamais poderia ter sido divulgada uma carta de apoio a
uma candidatura sem a consulta ao conjunto da diretoria da entidade e dos
estudantes.
O processo de
eleição da reitoria aprofundou a constante tentativa de se imprimir opiniões
pela força e não pelo debate. Já na escolha dos representantes estudantis para
participar da comissão eleitoral pleiteamos a participação com um membro
titular e fomos impedidos, sob o argumento de que não estávamos apoiando a
chapa 4, do professor Dirceu Martins, apoiada pelo campo majoritário do DCE. A
partir daí desintegrou-se qualquer possibilidade de atuação conjunta na gestão.
Na sequencia
uma sucessão de erros aprofundaram a postura impositiva, autoritária e
excludente, no tratamento dos interesses do corpo discente. A direção
majoritária se eximiu de elaborar um programa dos estudantes ou mesmo de
promover um debate especifico com os candidatos sobre as pautas estudantis.
Esta postura
que desarmou o DCE, enquanto entidade, para representar os estudantes no
processo de escolha para reitor foi seguida por outra ainda mais
perniciosa. A todo o momento os grupos
majoritários procuram vincular de alguma forma as conquistas históricas
conseguidas pelo acumulo de anos de luta dos estudantes à chapa 4, encabeçada pelo
atual Pró-reitor de administração Dirceu Martins. De uma hora para outra
assistimos estarrecidos ao BUSUFBA, RU, Residências e o conjunto da Assistência
Estudantil, reduzidas a concessões ou dádivas de uma candidatura. Reforçando um
estereotipo paternalista e clientelista que por anos foi duramente combatido
pelo nosso Diretório Central.
Não bastassem
estes fatos, a todo o momento, estes grupos majoritários, tentaram apresentar a
chapa 4 como a candidatura dos estudantes, até chegar ao ápice de apresentar
uma propaganda em que seis dos últimos coordenadores gerais do DCE apoiam a
chapa 4, inclusive o atual. Este foi o único momento em que o tais grupos
lembraram-se de apresentar o nome do DCE na campanha. Não se lembraram da
entidade para formular uma plataforma dos estudantes, não se lembraram da
entidade no momento de amarrar compromissos dos candidatos com as pautas
estudantis. Lembraram-se do DCE apenas no momento de vincular seis de seus
coordenadores a uma candidatura.
Este conjunto
de erros e atropelos fez com que aos olhos da comunidade Universitária,
nitidamente o DCE fosse o principal apoiador da chapa derrotada, impondo um
desgaste covarde a nossa entidade, que formalmente nunca apoiou nenhuma
candidatura, já que a mesma na prática nunca foi consultada em nenhum de seus
foros sobre o que fizeram em seu nome.
Esta pratica
conhecida como aparelhamento, não foi bem recebida pelo corpo discente que
infringiu aos dois grupos (Quilombo e Levante) do campo majoritário uma
acachapante derrota politica e eleitoral, dando mais de 3000 votos de frente
entre os estudantes, para João Carlos Salles e Paulo Miguez da chapa 1.
Diante disso defendemos o DCE,
que enquanto entidade, não pode ser confundida com os grupos que a capturam por
métodos equivocados, reafirmamos nosso compromisso com a disputa do projeto
político de uma UFBA pública, gratuita e de qualidade, mas com pesar afirmamos
insustentável a situação de minoria com opinião esmagada dentro da gestão e por
isto deixamos neste momento de compor a atual Direção. Continuaremos como
representante estudantil no Conselho Universitário, mas não participaremos mais
das Diretorias de Comunicação, Combate ao Racismo e Direitos Humanos.
Nós sambamos do lado daqueles que
lutam por um projeto que não vê nesta, ou em qualquer outra eleição seu fim,
mas sim uma etapa para construção de “um mundo onde sejamos todos socialmente
iguais, humanamente diferentes e totalmente livres” (Rosa Luxemburgo).