Nos últimos dias estamos vendo várias manifestações se alastrando pelo Brasil. Estas tiveram como a gota d’água o aumento da tarifa do transporte público, entretanto vem tomando outro rumo. A motivação dos jovens e trabalhadores que estão indo para a rua é de chamar a atenção para imobilidade urbana e para os problemas das áreas de saúde, segurança e educação.
A recepção foi truculenta pelo poder executivo e pela mídia elitista/conservadora que a todo custo tenta convencer que o que está sendo feito por milhares de cidadãos e cidadãs é errado, intensificando um processo de criminalização dos movimentos sociais, com reportagens produzidas no sentido de deslegitimar os protestos populares nas grandes capitais brasileiras. Estamos unidos aos que estão nesse momento tentando mudar o país, indo para as ruas, expressando a indignação com o conformismo e com a falta de perspectiva de uma sociedade menos desigual.
Em Salvador o cenário da imobilidade urbana e de total insegurança cada dia angaria novos elementos para o caos urbano. A cidade cresce cada vez mais de modo desigual, e na base do seu desenvolvimento está uma sociedade que reflete a exclusão e a diferença social e racial. Marcada pelo passado escravista, a ocupação do espaço urbano ocorreu de maneira distinta, conforme as necessidades das classes de maior poder aquisitivo em detrimento da maioria da população que vive as margens dos serviços públicos básicos.
O modelo se perpetuou e ainda hoje a ordem da ocupação da cidade tem o interesse privado como determinante no direcionamento dos investimentos Estatais e no planejamento do desenvolvimento urbano. O transporte coletivo, por exemplo, tornou-se mais um fator de exclusão social por diversas razões: alto preço da tarifa, precariedade no serviço prestado a população além da falta de linhas que atendam a demanda dos bairros mais distantes. Estamos perto de um colapso urbano, vez que há uma busca pelo transporte privado, para aqueles que podem, tornando alguns pontos da cidade intransitáveis em de
terminados horários.
terminados horários.
Tal situação é fortalecida pelo SETPS, um sindicato patronal que controla esse setor e cumpre o papel que caberia a prefeitura da cidade. Não há nenhum tipo de transparência no que se refere às contas e as práticas que envolvem o aumento da tarifa. Nesse sentido é urgente a criação de uma empresa pública que regule, controle e realmente responda aos interesses da população soteropolitana no que diz respeito ao transporte público.
Salvador precisa mudar seu quadro de desigualdade. As justificativas de baixa arrecadação municipal e de uma herança de crises históricas tentam maquiar o real descompromisso da gestão administrativa. A falta de prioridade e de projeto político de mobilidade urbana, que atenda de fato o interesse coletivo, é fruto do modo como Salvador esta sendo gerida.
Tendo como horizonte o passe livre, defendemos que há necessidade de fortalecer e criar outros modais de transporte coletivo, com integração tarifária, além da criação de um Conselho Municipal de Transporte, transparência da planilha de custos para o transporte e abertura de licitação das empresas de transporte coletivo. Para atender as necessidades da juventude soteropolitana deve ser estabelecida a facultatividade do SSA CARD, além da criação de outros postos de recarga, transporte público 24h e melhores condições de trabalho aos rodoviários. Por fim torna-se evidente e fundamental a elaboração de um Plano Diretor de Mobilidade Urbana.
A partir dessa reflexão, convidamos todos e todas para ir ás ruas lutar por uma sociedade igualitária!
Coletivo Crioul♀